sábado, 11 de novembro de 2023

Nova Definição de Dor


Durante quatro décadas (de 1979 a 2019), o conceito de Dor, pela Associação Internacional para o Estudo da Dor (IASP), permaneceu o seguinte, conforme Revisão da Definição de Dor pelo IASP apud SBED:


Dor é uma experiência sensorial e emocional desagradável associada a uma lesão tecidual real ou potencial, ou descrita nos termos de tal lesão.”


Com base na Revisão da Definição de Dor pelo IASP apud SBED, a justificativa do IASP foi a seguinte em 1979:


A dor é sempre subjetiva. Cada indivíduo, nas fases iniciais da vida, aprende a usar a palavra através das experiências relacionadas à lesão. Os biólogos reconhecem que esses estímulos que causam a dor são responsabilizados pela lesão. Da mesma forma, a dor é aquela experiência que associamos com uma lesão tecidual real ou potencial. É, sem dúvida, uma sensação em uma parte ou partes do corpo, mas também é sempre desagradável e, portanto, também é uma experiência emocional. As experiências que se assemelham à dor, por exemplo, uma agulhada, mas que não são desagradáveis, não devem ser chamadas de dor. Experiências desagradáveis anormais (disestesia) também podem ser dor, mas não necessariamente, porque, subjetivamente, elas podem não ter as qualidades sensitivas usuais da dor.


Muitas pessoas relatam dor na ausência de uma lesão tecidual ou qualquer outra causa fisiopatológica; e em geral isso acontece por razões psicológicas. Não há como diferenciar essa experiência daquela decorrente de uma lesão tecidual, se tomarmos o relato subjetivo. Se a experiência for encarada como dor, e se a pessoa relatá-la da mesma maneira que a dor causada por uma lesão tecidual, ela deve ser aceita como dor. Essa definição evita a ligação da dor com um estímulo. A atividade induzida nos nociceptores por um estímulo nocivo não é dor, que é sempre um estado psicológico, embora possamos entender muito bem que a dor frequentemente tem uma causa física próxima.”


No entanto, em 2020, a definição de Dor, pela Associação Internacional para o Estudo da Dor (IASP), foi revisada para (Revisão da Definição de Dor pelo IASP apud SBED):


É uma experiência sensorial e emocional desagradável, associada, ou semelhante àquela associada, a uma lesão tecidual real ou potencial.”


De acordo a Revisão da Definição de Dor pelo IASP apud SBED, nova definição foi justificada, conforme nota a seguir:


A dor é sempre uma experiência pessoal que é influenciada, em graus variáveis, por fatores biológicos, psicológicos e sociais;

Dor e nocicepção (componente fisiológico da dor) são fenômenos diferentes. A dor não pode ser determinada exclusivamente pela atividade dos neurônios sensitivos;

Através das suas experiências de vida, as pessoas aprendem o conceito de dor;

O relato de uma pessoa sobre uma experiência de dor deve ser respeitado;1

Embora a dor geralmente cumpra um papel adaptativo (fisiológico), ela pode ter efeitos adversos na função e no bem-estar social e psicológico;

A descrição verbal é apenas um dos vários comportamentos para expressar a dor; a incapacidade de comunicação não invalida a possibilidade de um ser humano ou um animal sentir dor;


Para a anestesiologista Fabíola Peixoto, coordenadora da pós-graduação em dor do Ensino Einstein, “é uma grande conquista. Até então, existia um conceito de que era preciso encontrar uma lesão para justificar a dor. Agora, ficou definido que a dor é algo individual e que deve ser tratada como uma doença em si”. Disponível em: < Definição de dor é revisada após mais de quatro décadas - 07/10/2020 - UOL VivaBem >. Acesso em: 23 out. 2023.


Até 2016, existiam apenas duas modalidades de dor: a nociceptiva, que pode ser resultado de cirurgias ou inflamações; e a neuropática, que acomete até 10% da população e é causada por lesões no sistema nervoso. Só nos últimos quatro anos que a comunidade médica passou a reconhecer a dor nociplástica, considerada como o terceiro mecanismo de dor. Apenas a fibromialgia, por exemplo, afeta 2% da população brasileira, sendo que a incidência em pessoas maiores de 40 anos chega a 8%, como apontam estudos da Universidade Federal de Santa Catarina, da Universidade de São Paulo e da Universidade Federal de São Paulo. Disponível em: < Definição de dor é revisada após mais de quatro décadas - 07/10/2020 - UOL VivaBem >. Acesso em: 23 out. 2023.


A especialista ressalta ainda o fato de que “é um caso em que não existe uma lesão, mas ainda assim não se pode dizer que a dor seja causada por fatores psicológicos. É uma dor física. São disfunções e maus funcionamentos que mantêm o paciente nessa condição”. Disponível em: < Definição de dor é revisada após mais de quatro décadas - 07/10/2020 - UOL VivaBem >. Acesso em: 23 out. 2023.


Portanto, após a revisão do IASP, em 2020, os tipos de dores2 são os seguintes:

  • Dor Neuropática3: é a dor causada por uma lesão ou doença do sistema nervoso somatossensorial4.


  • Dor Nociceptiva5: é a dor que surge de danos reais ou ameaçados ao tecido não neural e é devida à ativação de nociceptores.

  • Dor Nociplástica6: é a dor que surge da nocicepção (processo neural de codificação de estímulos nocivos7) alterada, apesar de não haver evidência clara de dano tecidual real ou ameaçado, causando a ativação de nociceptores periféricos ou evidência de doença ou lesão do sistema somatossensorial causando a dor.



1A Declaração de Montreal, documento desenvolvido durante o Primeiro Encontro Internacional de Dor em 3 de setembro de 2010, declara que o “acesso ao tratamento da dor é um direito humano fundamental.”.

2Dor é uma experiência sensitiva e emocional desagradável, associada, ou semelhante àquela associada, a uma lesão tecidual real ou potencial. Seis notas principais e etimologia: A dor é sempre uma experiência pessoal que é influenciada, em graus variáveis, por fatores biológicos, psicológicos e sociais; Dor e nocicepção são fenômenos diferentes. A dor não pode ser determinada exclusivamente pela atividade dos neurônios sensitivos; Através das suas experiências de vida, as pessoas aprendem o conceito de dor; O relato de uma pessoa sobre uma experiência de dor deve ser respeitado; Embora a dor geralmente cumpra um papel adaptativo, ela pode ter efeitos adversos na função e no bem-estar social e psicológico; A descrição verbal é apenas um dos vários comportamentos para expressar a dor; a incapacidade de comunicação não invalida a possibilidade de um ser humano ou um animal sentir dor. Etimologia: Inglês médio, do anglo-francês peine (dor, sofrimento), do latim poena (pena, punição), por sua vez do grego poine (pagamento, pena, recompensa). Uma mudança central na nova definição, em comparação com a versão de 1979, é a substituição da terminologia que dependia da capacidade de uma pessoa de descrever a experiência para se qualificar como dor. A antiga definição dizia: "Uma experiência sensorial e emocional desagradável associada a danos teciduais reais ou potenciais, ou descrita em termos de tais danos". Essa formulação foi interpretada como excluindo bebês, idosos e outros – até mesmo animais – que não conseguiam articular verbalmente sua dor, disse o Dr. Jeffrey Mogil, diretor do Centro Alan Edwards de Pesquisa em Dor, Universidade McGill e membro da Força-Tarefa. Disponível em: < Terminologia | Associação Internacional para o Estudo da Dor (iasp-pain.org) >. Acesso em: 24 out. 2023.

3Nota: Dor neuropática é uma descrição clínica (e não um diagnóstico) que requer uma lesão demonstrável ou uma doença que satisfaça os critérios diagnósticos neurológicos estabelecidos. O termo lesão é comumente usado quando investigações diagnósticas (por exemplo, exames de imagem, neurofisiologia, biópsias, exames laboratoriais) revelam uma anormalidade ou quando houve trauma óbvio. O termo doença é comumente usado quando a causa subjacente da lesão é conhecida (por exemplo, acidente vascular cerebral, vasculite, diabetes mellitus, anormalidade genética). Disponível em: < Terminologia | Associação Internacional para o Estudo da Dor (iasp-pain.org) >. Acesso em: 24 out. 2023.

4Somatosensorial refere-se a informações sobre o corpo em si, incluindo órgãos viscerais, em vez de informações sobre o mundo externo (por exemplo, visão, audição ou olfato). A presença de sintomas ou sinais (por exemplo, dor evocada pelo toque) por si só não justifica o uso do termo neuropático. Algumas entidades patológicas, como a neuralgia do trigêmeo, são atualmente definidas por sua apresentação clínica e não por testes diagnósticos objetivos. Outros diagnósticos, como neuralgia pós-herpética, são normalmente baseados na história. É comum, na investigação da dor neuropática, que os testes diagnósticos possam fornecer dados inconclusivos ou mesmo inconsistentes. Nesses casos, o julgamento clínico é necessário para reduzir a totalidade dos achados em um paciente em um diagnóstico putativo ou um grupo conciso de diagnósticos. Disponível em: < Terminologia | Associação Internacional para o Estudo da Dor (iasp-pain.org) >. Acesso em: 24 out. 2023.

5Nota: Este termo é projetado para contrastar com a dor neuropática. O termo é usado para descrever a dor que ocorre com um sistema nervoso somatossensorial funcionando normalmente para contrastar com a função anormal observada na dor neuropática. Disponível em: < Terminologia | Associação Internacional para o Estudo da Dor (iasp-pain.org) >. Acesso em: 24 out. 2023.

6Nota: Os pacientes podem ter uma combinação de dor nociceptiva e nociplástica. Disponível em: < Terminologia | Associação Internacional para o Estudo da Dor (iasp-pain.org) >. Acesso em: 24 out. 2023.

7Um estímulo que está danificando ou ameaçando danificar os tecidos normais. Nota: As consequências da codificação podem ser autonômicas (por exemplo, pressão arterial elevada) ou comportamentais (reflexo de abstinência motora ou comportamento nocifensivo mais complexo). A sensação de dor não está necessariamente implícita. Disponível em: < Terminologia | Associação Internacional para o Estudo da Dor (iasp-pain.org) >. Acesso em: 24 out. 2023.

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